Bolsonaro tem lições a aprender com Winston Churchill


Por Wilson Oliveira

Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista coletiva para afirmar uma posição de neutralidade em relação aos ataques violentos que a Rússia tem promovido na Ucrânia. O presidente do Brasil tentou amenizar o ocorrido afirmando que a ex-URSS quer a independência de áreas que no passado eram colônias soviéticas, mas que atualmente são pertencentes ao território ucraniano, e que não iria entrar "no mérito" do tema - como se já não estivesse entrado.

Ao dizer que "apenas busca a paz nessa questão", Bolsonaro desaba completamente em uma incoerência imperdoável e inexplicável. Quem quer a paz, automaticamente está do lado oposto de quem promove a guerra. Como tem sido visto por todo mundo, Vladimir Putin iniciou uma ofensiva militar no território ucraniano que já dura quatro dias. É motivo mais do que suficiente para ser repreendido por todos que buscam, de fato e coerentemente, a paz.

Infelizmente, Bolsonaro tem muitas lições a aprender com Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido entre 1940 e 1945, também de formação militar. Até hoje, Churchill é lembrado - e exaltado com todo mérito - por ter previsto que Adolf Hitler iria atacar a Polônia e, antes mesmo que isso acontecesse, já ter começado a preparar o exército polonês militarmente para resistir quando o ataque viesse a acontecer - e que de fato acabou acontecendo.

Além de ter feito a previsão bastante acertada, Churchill não hesitou em condenar Hitler de imediato assim que o exército alemão se moveu na direção do território polonês. O então primeiro-ministro do Reino Unido não classificou como exagero qualquer crítica feita aos ataques alemães quando os números de mortes ainda eram iniciais. Ao contrário, ele mesmo foi o primeiro a enfrentar o nazismo, mesmo diante de críticas de chefes de outros países europeus que chamavam Churchill de "fanático por guerra".

 

É claro que o Brasil não pode ser comparado ao Reino Unido, nem na situação atual nem nos anos 1940. Não temos a menor condição de enfrentar um país como a Rússia como os britânicos enfrentaram os alemães na Segunda Guerra Mundial. No entanto, um atentado contra a vida de inocentes, em qualquer momento ou contexto, independente da justificativa que tentem usar, sempre deve ser repudiada. Principalmente para um conservador, que por natureza é um defensor da vida.

Em entrevista para a TV Record, Jair Bolsonaro tentou naturalizar sua neutralidade argumentando que o Brasil depende dos fertilizantes da Rússia. Na entrevista coletiva, alegou que uma ação da OTAN poderia agravar a guerra. Esses pontos levantados pelo presidente do Brasil perdem completamente o sentido no momento que mais de 100 pessoas, incluindo crianças, já morreram na Ucrânia, e que outras milhares se refugiam como podem para os países vizinhos (menos para a Rússia).

Esses posicionamentos até fariam algum sentido antes do conflito se deflagrar, mas sendo colocados agora passam a impressão que o presidente do Brasil quer evitar decepcionar a ala destrutiva da direita que está vendo com bons olhos o massacre que Putin está promovendo na Ucrânia - e que pode ficar ainda pior se a Rússia utilizar armas nucleares. E é óbvio que essa atitude de Jair Bolsonaro, até o momento, vai se transformando no seu maior pecado, disparado, desde que se tornou presidente da república brasileira. 

É errado culpar exclusivamente Bolsonaro pelas 600 mil mortes na pandemia, com tantos erros cometidos por governadores e prefeitos, mas é correto culpar Bolsonaro pelo fato dele próprio ter lavado as mãos para as mortes de inocentes na Ucrânia. Parceiro íntimo de Cuba e Venezuela, Putin também está recebendo apoio da China, que não está compactuando com nenhuma iniciativa da ONU que visa punir a Rússia. Isso já diz bastante sobre o tipo de gente que Bolsonaro está aliviando a barra ao adotar essa mórbida neutralidade.


O voto do Brasil na ONU, a favor da Reunião de Emergência, que tem como objetivo uma tentativa de cessar-fogo, fica muito pequeno perto da fraqueza de Jair Bolsonaro ao não condenar a matança russa na Ucrânia que repete um filme que os ucranianos tiveram o desprazer de vivenciar na época da URSS. Afinal, não é o chanceler, nem nenhum embaixador ou diplomata, a maior autoridade brasileira, mas sim o presidente da república. Logicamente, a palavra de Bolsonaro tem muito mais peso do que de qualquer outro funcionário do Itamaraty.

Mais uma vez mostrando seríssimos problemas na comunicação, que não é séria, firme nem profissional, com afirmações confusas, como a de que ficou duas horas conversando com Putin, dando a entender que houve um telefonema antes da coletiva de imprensa, depois tendo que esclarecer que se tratava da reunião em Moscou dias atrás, Bolsonaro vacila feio em um momento que é bastante diferente de todos aqueles em que havia alguma lógica provocar críticas por parte da grande imprensa que enfrenta uma profunda crise de credibilidade. 

Porém, a situação nesse momento é muito diferente. O que vemos diante dos nossos olhos é uma maneira de agir do presidente ditador da Rússia que se assemelha bastante às atrocidades cometidas por Adolf Hitler, Josef Stalin e Benito Mussolini em tempos sombrios que todo ser humano que preza pela vida gostaria que não voltasse a se repetir. 

E se Bolsonaro acha um exagero repudiar o que está acontecendo na Ucrânia, o que precisa acontecer para ele enfim adotar uma postura digna de um líder que defende a vida? Ou será que ele jamais será capaz de tal façanha quando se trata do seu novo amigo que na juventude era agente da KGB?


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