A 3ª geração da direita brasileira: bolsonarismo e lavajatismo


Por Wilson Oliveira

Diferentemente da 1ª geração, representada pelo Partido Conservador no Brasil Imperial, e da 2ª geração, representada pela UDN nos anos 1940, 1950 e 1960, a 3ª geração da direita brasileira surge e, oito anos depois, permanece sem um partido próprio para representá-la. Com um hiato de 49 anos (a UDN foi dissolvida em 1965), o Brasil viu o ressurgimento de cidadãos declaradamente direitistas através de dois fenômenos populares: o bolsonarismo e o lavajatismo.

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Os dois fenômenos estão intimamente ligados quando mergulhamos nos últimos 10 anos da história da política brasileira para entender como se deu esse despertar da terceira geração da direita no Brasil. A Operação Lava Jato teve início em março de 2014, quando a Polícia Federal deflagrou o início das investigações sobre um posto de combustíveis em Brasília, local onde foi detectada uma casa de câmbio utilizada para evadir divisas do país. 

Nessa mesma época, o então deputado federal Jair Bolsonaro concedia entrevistas para programas televisos de pouco apelo para defender pautas conservadoras e expor toda a sua aversão à esquerda e ao PT. Os posicionamentos do na época parlamentar começaram a ganhar grande repercussão nacional graças a um ativismo bastante empenhado nas redes sociais de pessoas de todas as faixas etárias. Jovens atuavam na produção de conteúdo, principalmente memes, enquanto o restante dos militantes, principalmente com mais de 40 anos, considerados "tiozões" no universo virtual, compartilhavam as produções freneticamente, especialmente em grupos de WhatsApp.
 
 

Embora a maior parte do conteúdo elaborado sobre Bolsonaro na origem do sucesso deste político fosse de caráter humorístico, também serviu para canalizar a indignação da maioria do povo brasileiro com as revelações que a Lava Jato foram apresentando ao país no segundo semestre de 2014, em 2015, em 2016, em 2017 e em 2018. Foi essa aliança que deu vida ao renascimento da direita brasileira, que foi às ruas para manifestar apoio a operação do Ministério Público Federal e para pedir o impeachment da então presidente da república Dilma Rousseff.

Essas manifestações de rua, que foram crescendo a medida que a PF prendia políticos do alto escalão nacional e Jair Bolsonaro se consolidava como liderança política dessa revolta popular, começou a reunir alas de diferenciadas origens. Conservadores em geral, principalmente os adeptos da produção e das aulas do filósofo Olavo de Carvalho, liberais, saudosistas do Regime Militar, anarcocapitalistas, apoiadores da Lava Jato, fãs do próprio Jair Bolsonaro, monarquistas e integralistas. Essa mistura ficou bastante retratada na variedade de pautas periféricas desses protestos.

Tanto nas redes sociais como nas ruas do país, nos momentos que essas multidões se juntavam vestindo verde e amarelo, era possível encontrar pedidos pela redução do estado, fortalecimento do conservadorismo, desejos por uma intervenção militar, combate ao 'politicamente correto' e ao 'marxismo cultural' entre outros. De fato, havia uma profusão de desejos e sentimentos difusos. No entanto, todos concordavam que era preciso uma profunda mudança na representação política brasileira.
 
 

Veio a eleição de 2018 e Jair Bolsonaro foi eleito presidente da república em segundo turno, contra Fernando Haddad, do PT, que tinha como slogan o fato de "ser Lula', enquanto o próprio, preso em abril daquele ano, dizia que "era Haddad". Além da vitória no poder executivo, esse nascimento da terceira geração da direita brasileira também trouxe um renovação de quase 50% no Congresso Nacional, mesmo sem a criação de nenhum partido direitista até o presente momento. 

Em novembro de 2019, Lula foi solto e imediatamente reuniu todos os setores da esquerda na corrente oposicionista ao governo Bolsonaro, que via alguns grupos direitistas se distanciarem do presidente por discordâncias ou mesmo por não aprovarem a forma como Jair Bolsonaro se postava. Era o processo inverso acontecendo. Se antes a direita estava unida enquanto a esquerda se esfacelava, era o momento do oposto começar a acontecer.

Agora em 2022, a terceira geração da direita brasileira tenta aumentar o seu espaço na política com quadros filiados principalmente em partidos do centrão, como o PL - legenda que conta com a presença de Jair Bolsonaro -, o PP e o Republicanos. O PTB foi o único partido dentre os que já existiam que decidiu dar uma guinada conservadora no seu estatuto, também recebendo uma leva de filiações. Outras alas menores dessa terceira geração direitista, como os liberais e os lavajatistas, se dividiram entre as siglas da terceira via e defendem a neutralidade se houver outro segundo turno entre Bolsonaro e o PT.


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